Modelo deixa de ser o de internato para ser centro vocacional
O Seminário Mãe de Deus, em Irati, a partir deste ano terá nova modalidade de acompanhamento vocacional. Os meninos que se sentirem chamados a ser padre serão acompanhados em suas próprias comunidades, permanecendo com a família até a conclusão do Ensino Médio e participando de encontros regulares de fim de semana, feriados e férias, no seminário. O modelo, usado já pela maioria das dioceses do Brasil, quer abranger um número maior de adolescentes, entre 12 e 17 anos, em seu processo de discernimento vocacional.
O reitor do Seminário Mãe de Deus, padre Hélio Guimarães, explica que vocação é Deus que chama. E ela pode ser despertada em qualquer tempo da vida. Em função disso, o acompanhamento vocacional se dá em instâncias distintas. “Ser padre é perceber que tem algo tocando para que se siga esse caminho. Isso acontece com o adolescente, já criança ou até mais tarde. O Seminário Mãe de Deus é uma oportunidade para os ‘chamados da primeira hora’”, diz o reitor, referindo-se à parábola retratada em Mateus 20. “Muitos padres com mais de 20, 30 anos de sacerdócio sentiram o chamado ainda na infância e tiveram a oportunidade de entrar no seminário com dez, onze anos de idade, em outras épocas, quando os chamados ‘seminários menores’ eram muito fortes. Em 1981, o Seminário Mãe de Deus nasceu com esse intuito em Irati, onde se formaram muitos adolescentes e jovens que, sentindo o chamado, passaram a estudar aqui. Vinham se preparar no seminário, moravam aqui e estudavam nos colégios da cidade, até o Ensino Médio”, acrescenta.
No seminário, se fazia o acompanhamento vocacional a partir dos 12 anos, nos finais de semana, e, quando o adolescente completava 13 anos, período em que está indo para o primeiro ano do Ensino Médio, era acolhido. “Os tempos mudaram. Antigamente, menino de onze anos, doze anos tinha outra mentalidade. Com catorze ou quinze anos muitos saíam para trabalhar fora de casa. Hoje, as decisões da vida estão ficando cada vez para mais tarde. Há uma linha da Psicologia que afirma que a adolescência vai até vinte e cinco, vinte e seis anos. As coisas são diferentes. Não há como exigir uma decisão para a vida toda de um menino de doze, catorze anos. É muito difícil isso nos nossos tempos. Outro ponto é que as famílias hoje são muito menores. É muito mais comum ver família com filho único do que com três, quatro filhos. Às vezes, o menino até sente o desejo (de ser padre), vem fazer os encontros, mas, quando vem para o seminário, com 14 anos acaba abrindo um rombo na família porque todos vivem em torno desse menino. É muito cedo”, argumenta o reitor.
Padre Hélio comenta que, em outras dioceses, há o acompanhamento vocacional dos meninos, que participam de encontros, no seminário, a cada dois meses ou mensalmente, para irem cultivando a vocação e, durante a semana, permanecem com a família, estudando em seus colégios, nas cidades de origem, e começam a se envolver nas suas paróquias, como coroinhas, acólitos, participando da Liturgia, do Ministério de Música, grupo de jovens e de grupos de adolescentes. É preciso criar esse envolvimento para sentir a vocação na comunidade. Com 17, 18 anos, se sente esse desejo de ser padre, vai sendo preparado para entrar no seminário propedêutico. “A novidade deste ano é que, na linha das dioceses do Brasil, o Seminário Menor deixa de ter o modelo de internato e passa a ter o formato de centro vocacional. Assim, eu poderei acompanhar um número muito maior de crianças e adolescentes, nos finais de semana, com encontros mais extensos nas férias ou feriados. Vou continuar o trabalho este ano como reitor, acompanhando os meninos em suas paróquias e, regularmente, trazendo os meninos para essas experiências pensando em manter acesa a chama da vocação. Não tendo internos também vou poder visitar as famílias dos vocacionados pela Diocese e, nos finais de semana, celebrar missas vocacionais nas comunidades, para ajudar a despertar o desejo de ser padre e seguir a vocação”, detalha.
De acordo com padre Hélio, em 2023, os encontros vocacionais serão divididos por idade. As datas serão anunciadas na página do seminário no Facebook, nas paróquias e nos meios de comunicação. Diferentes finais de semana terão encontros para meninos de até 12 anos. Depois, de 12 a 15 anos. Em seguida, de 16 e 17, e, para os acima de 18. “As experiências passarão a contar com linguagem própria”, afirma. Nos encontros, os garotos participam de momentos de oração, de formação, de estudo da Bíblia, da Doutrina da Igreja, de esporte – seminário tem campo de futebol, quadra, mesa de sinuca, pátio onde acontecem as gincanas – e recebem noções de cuidados com si mesmo e da casa, do espaço. Os pais podem ajudar auxiliando o menino a se integrar na comunidade e o levando para participar dos encontros vocacionais no seminário. O Seminário Menor Mãe de Deus fica no Bairro Camacuã, em Irati. As famílias podem agendar visita. Informações também via Facebook (facebook.com/maededeusirati) e Instagram (menormaededeus). “O primeiro passo é conversar com o padre, o vigário da paróquia que participa, contando que gostaria de conhecer melhor o caminho vocacional, conhecer como se faz para ser padre. O padre é o canal que chega ao seminário”, orienta padre Hélio.
Formação
“Ser padre é uma vocação. Não é uma profissão. Não há limite de idade para ouvir o chamado”, enfatiza padre Hélio. Até agora, o menino poderia entrar com 12 para 13 anos, cursar no seminário o primeiro, segundo e terceiro anos do Ensino Médio, ou, já com o primeiro ano cursado, estando para fazer o segundo e terceiro anos, ou, somente para cursar o terceiro ano. Nos encontros vocacionais, se observava quem deseja entrar para o seminário, era conversado com a família, acompanhado e o menino permanecia no seminário para a formação. Terminando o Ensino Médio, ele tomava a decisão junto com a família se continuariam ou não na formação. Se sim, iria então para o Seminário Propedêutico, em Carambeí. Em 2022, havia quatro adolescentes no final do ano dos seis que começaram o processo no Mãe de Deus. Dois foram para Carambeí. Em 2021, dos nove, quatro foram para o Propedêutico e estão para iniciar os estudos de Filosofia, em Ponta Grossa, este ano. Em Irati, o seminário abrigava garotos de 14 a 18 anos. Em Carambeí, o seminário é para os que sentem o chamado perto dos 18 anos e que já têm o Ensino Médio completo.
Há três anos, existe no Paraná uma experiência totalmente diferente voltada para aqueles que já concluíram o Ensino Médio, fizeram faculdade, muitas vezes, exercem uma profissão e sentem que Deus os chama para o sacerdócio. É a vocação adulta. Em Curitiba, existe um instituto para a formação de adultos. Nesse caso, os rapazes não fazem os tradicionais oito anos de seminário, mas farão a faculdade de Filosofia – pelo modo de ensino à distância – participarão de encontros de fins de semana e feriados, presencialmente. São seis anos de formação. Nos últimos dois anos, os vocacionados vão viver de maneira interna no seminário. “São acolhidas pessoas com 35, 40 anos, que sentem o desejo de ser padre e, ao mesmo tempo, continuam exercendo a sua profissão. Só no final da formação, ela deixa a profissão e passa a ser sacerdote”, esclarece o reitor.