Instituto acolhe vocacionados adultos

Único do Brasil, IDE tem dois candidatos da diocese de Ponta Grossa

 

A Igreja tem visto crescer a procura pelo presbiterado por um número cada vez maior de candidatos com mais idade.  Pensando em cuidar das chamadas ‘vocações maduras’, a Arquidiocese de Curitiba resolveu apostar em um novo formato de formação. O candidato com idade entre 28 e 48 anos continua morando em sua casa, exercendo sua profissão e com seu emprego nos quatro primeiros anos da caminhada, frequentando o Instituto Discípulos de Emaús (IDE) em datas específicas.  Além de ter como vice-reitor o padre da Diocese de Ponta Grossa, Matthias Ham, a entidade tem entre os alunos dois candidatos da região, um de Telêmaco Borba e outro de Ponta Grossa.

     “Considera-se uma vocação adulta uma pessoa que já formou sua personalidade, que é independente financeiramente, sabe se auto- sustentar e conseguiu um grau de liberdade interior para poder fazer escolha e tomar decisões livremente e também conseguiu um certo grau de sabedoria mais do que conhecimento, através das experiências de vida”, explica o vice-reitor, coordenador do processo de admissão e assessor da dimensão humana do IDE, padre Matthias.  O diferencial, segundo o sacerdote, é que os candidatos ao diaconato e ao presbiterado são formados juntos e só deixam o emprego depois de quatro anos de estudos, quando, no caso dos futuros sacerdotes, vão morar dois anos uma paróquia, onde recebem a formação prática, mas continuam frequentando o instituto a cada 15 dias, para a formação intelectual e pastoral teórica.

     “Em outubro de 2018 completou 35 anos que começou a preocupação com as vocações adultas na Holanda. Desde então, 204 candidatos passaram pela formação. 116 foram ordenados: 13 para o diaconato permanente e 113 para o presbiterado. É um modelo formativo provado e aprovado”, avalia padre Matthias, que foi reitor por 12 anos do Instituto Bovendonk.  Por sua experiência foi que Dom José Antonio Peruzzo, arcebispo de Curitiba, solicitou ao bispo Dom Sergio Arthur Braschi o ‘empréstimo’ do padre por alguns dias na semana, para integrar a equipe formadora. Único no Brasil, o IDE iniciou a primeira turma em 2019 e atualmente conta com 17 candidatos no segundo ano da formação e 20 no primeiro. Deste total de 37, 16 querem ser padre e 21 diácono permanente.

      Os encontros são quinzenais. Cerca de 19 a 20 por ano, no Seminário Filosófico Bom Pastor, em Curitiba. Os candidatos a diaconado permanente seguem um programa de quatro anos e os que serão presbíteros, de seis. Os alunos deverão, ao mesmo tempo, fazer a sua formação teológica e filosófica, fora do instituto. Para isso, contam com cursos na modalidade de ensino à distância, com complementação dentro do instituto. Podem inscrever-se candidatos de todas as dioceses do Paraná e, eventualmente, de outras dioceses do Brasil. Informações pelo fone (41) 99640-7073 e pelo email ideacompanhamento@gmail.com.       

     Da Diocese

     Jackson Alves, 30 anos, participa da Paróquia Santa Rita de Cássia, em Ponta Grossa, e, apesar de falar em ser padre desde os quatro, cinco anos de idade e ter feito alguns acompanhamentos vocacionais no período da adolescência, na época da faculdade, acabou abandonando a ideia. “Fui retomar isso quando já morava sozinho, em outra cidade, tinha minha independência financeira como todo jovem almeja, mas me sentia como um balão: cheio por fora mas vazio por dentro. Não tinha um significado na vida. Foi conversar com um sacerdote redentorista, promotor vocacional em Telêmaco Borba, que me questionou porque eu ainda estava esperando para dar uma resposta para Deus e me convidou a fazer uma experiência”, detalha.

      Desde então, o candidato conta que ficou inquieto. “Comecei a pensar. Em seis, sete meses decidi abandonar tudo, casa, carro, trabalho, e entrar num seminário redentorista, onde fiquei por dois anos e acabei pedindo para sair porque havia uma diferença muito grande de idade entre eu, que, na época, tinha 27 anos e os seminaristas mais novos, de 16, 17 anos. Procurei ajuda na diocese e soube do instituto para vocações adultas”, acrescenta. Jackson cita que as aulas começam sempre no sábado pela manhã, com a Santa Missa, e terminam no domingo, após o almoço. “Além dos encontros, temos aulas remotas. Este ano, são da Faculdade São Basílio Magno, aulas de Filosofia.  Eclesiástica”.

     Flávio Rodrigues tem 28 anos, é de Telêmaco Borba, onde serve na Pastoral de Canto e Liturgia da Paróquia São Pedro e São Paulo. Igualmente, ouviu o chamado de Deus quando criança. Chegou a ir para um seminário religioso, mas não permaneceu. Estudou, formou-se, iniciou a vida profissional e continuou percebendo que o Senhor esperava algo mais dele. “Mesmo eu participando ativamente na comunidade, sentia que o Senhor me pedia algo a mais. E o padre Sílvio (Mocelim) sempre foi um grande incentivador, me chamava para ir aos encontros vocacionais da Diocese, mas eu sempre recusava, achava que não era mais para mim”, relembra. Ano passado, viveu intensamente a celebração da ordenação do padre Rafael Moreira. “Como na Palavra, quando Deus chama o profeta Samuel, sentia que, naquele momento, Deus chamava pelo meu nome. Meu coração queimava”, destaca. Naquela semana, pediu um sinal para Deus e ele veio no dia seguinte, quando navegando pela internet, acabou encontrando um vídeo que falava sobre o IDE. 

     “Para você que é adulto e tem dúvida a respeito de sua vocação eu te convido a procurar a Pastoral Vocacional e perguntar um pouco mais como funciona o instituto. Quem sabe as respostas que você procura não estão nesse sacerdote que, assim como para mim, num dado momento, teve essa resposta quando eu mais precisei”, aconselha Jackson Alves. Para Flávio Rodrigues, realmente foi uma resposta de Deus. “Agora, com o IDE eu posso estar respondendo a Ele. Está sendo muito válido, uma experiência maravilhosa”, resume